Um novo dispositivo criado por cientistas nos Estados Unidos pode ajudar a tornar o diagnóstico do autismo mais rápido, acessível e padronizado. Chamado EarliPoint, o aparelho usa rastreamento ocular e foi aprovado pela FDA, a agência reguladora americana, para crianças entre 16 e 30 meses de idade.
Durante o exame, a criança assiste a vídeos curtos enquanto o dispositivo monitora seus movimentos oculares 120 vezes por segundo. Com base nesses dados, ele gera um relatório que inclui o diagnóstico (categórico e quantitativo), além de informações sobre sociabilidade, linguagem, aprendizado e estilo social da criança. O objetivo não é substituir o profissional, mas servir como uma ferramenta complementar para facilitar o processo, especialmente em locais sem centros especializados.
Segundo Ami Klin, cientista brasileiro responsável pela pesquisa, o EarliPoint pode reduzir de seis a dez horas de observação clínica, encurtando o caminho para o início do tratamento. Ele reforça que o diagnóstico ainda depende da análise do histórico da criança e da avaliação de um profissional de saúde habilitado.
Especialistas brasileiros reconhecem o valor da tecnologia, mas alertam: o diagnóstico de autismo é complexo, vai além de exames e exige análise subjetiva e individualizada. Também há preocupação com o impacto no sistema público de saúde, que já enfrenta dificuldades para atender quem já foi diagnosticado.
“O risco é aumentar diagnósticos sem garantir tratamento”, afirma o psiquiatra Guilherme Polanczyk. Já a médica Milena Pondé questiona o uso clínico de biomarcadores no desenvolvimento infantil: “Na prática, pode mais atrapalhar do que ajudar.”
Por enquanto, o EarliPoint está disponível apenas nos EUA. Apesar do interesse, ainda não há previsão para sua chegada ao Brasil.