Obesidade passa a ser tratada como doença crônica em nova diretriz médica brasileira

A obesidade deixou de ser vista apenas como fator de risco e passou a ser reconhecida como uma doença crônica inflamatória e multifatorial, que exige tratamento específico e individualizado. Essa é a principal mudança proposta por uma nova diretriz anunciada nesta sexta-feira (30) durante o Congresso Brasileiro de Obesidade e Síndrome Metabólica (CBOSM 2025), resultado do trabalho conjunto de cinco sociedades médicas nacionais.

A diretriz traz 34 recomendações práticas — que serão divulgadas no segundo semestre — e propõe uma abordagem integrada entre obesidade e risco cardiovascular, com foco na prevenção e tratamento personalizados. O objetivo é oferecer aos profissionais de saúde orientações claras e embasadas para decisões clínicas mais eficazes.

Segundo o endocrinologista Marcello Bertoluci, coordenador do documento, o foco agora não é apenas perder peso, mas tratar os riscos específicos de cada paciente. Para isso, será utilizada a ferramenta PREVENT (desenvolvida pela American Heart Association), que avalia o risco cardiovascular em 10 anos considerando fatores como infarto, AVC, insuficiência cardíaca, rins, metabolismo, além de incluir IMC e hemoglobina glicada — algo inédito.

A avaliação será direcionada a adultos acima de 30 anos com sobrepeso ou obesidade (IMC até 39) que ainda não tiveram eventos cardiovasculares. O novo protocolo também reforça mudanças no estilo de vida e uso de medicamentos como semaglutida e tirzepatida, que se mostraram eficazes não só na perda de peso, mas também na redução de riscos cardiovasculares.

A cirurgia bariátrica continua sendo uma opção para casos mais graves, inclusive quando há insuficiência cardíaca. A diretriz ainda inclui condutas específicas para pacientes com doenças como diabetes tipo 2, apneia do sono, doença renal crônica e problemas cardíacos — sempre com uma visão multidisciplinar e voltada à prática clínica.

A endocrinologista Cynthia Valério destaca que, pela primeira vez, a obesidade é tratada como o eixo central na prevenção de doenças cardiovasculares, com base nas melhores evidências científicas. O documento final será publicado no segundo semestre de 2025.

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